História de Paranaiguara
O início
A geografia nos ensina que as primeiras cidades brasileiras surgiram à beira-mar e, posteriormente, com o avanço dos desmatamentos em busca da madeira rosada, o pau-brasil para exportação, abertura de lavouras e criação de gado, nas encruzilhadas das estradas, nos pousos de tropeiros, às margens dos rios e ao lado dos garimpos de ouro, prata e pedras preciosas. Os nomes de muitas cidades brasileiras refletem suas origens, tais como Ouro Fino, Diamantina, Vacarias, Rio Preto, etc. No século passado, algumas foram previamente programadas para serem capitais. A primeira foi Belo Horizonte - MG, a segunda, Goiânia - GO, a terceira, Brasília - DF e a quarta, Palmas - TO. Com o grande desenvolvimento na área de eletrificação, muitas cidades tiveram que ceder seus lugares para não serem sepultadas pelas águas das represas. Paranaiguara enquadra-se em três destes casos: 1) Surgiu espontaneamente às margens do Ribeirão Mateira; 2) sobre uma Grupiara; 3) foi devidamente planejada e reconstruída em um lugar fora da área de inundação da represa de São Simão. Por volta de 1928, a parte sul do gigantesco município de Quirinópolis, a princípio denominado Capelinha, localizado a sudoeste do Estado de Goiás, tinha pouquíssimos habitantes. As estradas não passavam de trilhas sinuosas, percorridas por boiadeiros, que zelavam do gado de seus patrões, residentes nas cidades ou mesmo fora de Goiás. O majestoso Rio Paranaíba, que nasce na Serra da Mata da Corda, no Triângulo Mineiro e depois serve de linha divisória ente os Estados de Minas Gerais e Goiás, era o grande obstáculo para os frigoríficos mais próximos, localizados em Minas Gerais e São Paulo. Bastante largo, mas de pouca profundidade, deslizava-se sereno em seu leito arenoso, ladeado de florestas, entretanto, em determinado ponto, pedras irregulares começavam a aflorar sobre a superfície das águas, e então, em forma de um arco, precipitava-se em uma pequena queda, formando uma belíssima e poética cachoeirinha. Daí em diante, sobre um leito pedregoso, ladeado por paredões rochosos, formava velozes rebojos, capazes de desafiarem os mais afoitos e corajosos nadadores. A esse lindo espetáculo da natureza, os poucos habitantes deram o nome de rasoura e ao vapor emanado das águas denominaram fumaça.
Esse conjunto de belezas naturais recebeu o nome de Canal São Simão, para os olhos, tudo maravilhoso, mas para o bolso dos fazendeiros, uma beleza indesejada. A travessia sobre o rio, naturalmente canalizado, passou a ser feita através de uma ponte pênsil, construída com a ajuda de uma pombinha, em cujos pés foi amarrado um cordão, solta do lado de Minas Gerais, voou para Goiás, com o cordão foi puxado, uma cabo de aço. Era o começo do desenvolvimento da região. Em 1930, deu-se inicio à construção de uma ponte, que só foi concluída em 1933. As terras do lado goiano, desde o Rio Paranaíba até o Rio Alegre, eram propriedades do Sr. Virgílio Rodrigues da Cunha, que as adquiriu de Ricardo Campos. Para cuidar de sua fazenda contratou Antônio Matos, mais tarde substituído por Domiciano Ferreira, que foi o primeiro a se estabelecer nas proximidades do Ribeirão Mateira. Esse trouxe João Santana da Silva, que chegou no dia 16-07-1941, às 18 horas. O recém-chegado, que era perito na arte de garimpar, seu trabalho predileto, trouxe consigo a tralha necessária. Tentando a sorte na lavoura, onde não viu futuro imediato, passou a explorar o cascalho às margens dos rios, encontrando sinais de diamantes junto ao Rio Mateira, assim, denominado por haver sido abatido um animal da família dos cervídeos, em uma de suas margens. No dia 19-07-1941, João bamburrou (encontrei diamante), sendo premiado com um xibio de 40 pontos. Estavam descobertas as preciosas pedras, que seriam o alicerce de nossa querida Paranaiguara, a Princesa do Planalto.
A notícia alvissareira se espalhou com extrema rapidez e de todos os quadrantes chegavam garimpeiros experientes e leigos, não faltando os capangueiros. O dono das terras, Virgílio Rodrigues da Cunha, apelidado por Virgílio Pólvora, inconformado com a atitude e ousadia dos intrusos, na tentativa de expulsá-los, chamou a polícia de Rio Verde - Go. Entretanto, essa medida drástica foi inútil, pois, mal os soldados viraram as costas, retornaram abrindo profundas e enormes valetas. Dia-a-Dia, a situação se agravava e então, optou por uma decisão radical, vender a parte das terras exploradas e deterioradas por estranhos. Apesar do pesares, não foi difícil encontrar um pretendente. Do lado mineiro, há poucos quilômetros do Rio Paranaíba, morava o fazendeiro, Oscar José Bernardes, que se interessou pelo negócio, comprando alguns hectares, onde os invasores estavam desfrutando do que não lhes pertencia. Para felicidade dos audaciosos aventureiros, o garimpo também foi liberado. A outra parte das terras, na vertente do Paranaíba com perspectivas diamantíferas, foi vendida a Gilberto Marques, onde o garimpo também foi liberado. Tanto às margens do Ribeirão Mateira, quanto do Paranaíba, os ranchos foram se enfileirando. Ao lado da ponte foi construído um posto fiscal. Entre muitas pessoas, que contribuíram para o desenvolvimento do povoado, foi Josias Lula, que abriu um rego de água, procedente do Ribeirão Mateira, para facilitar a lavagem de cascalho. O alagoano Neca Lima foi contratado por Jair Ottoni para fazer a primeira construção de alvenaria, sendo montado um armazém muito sortido, onde se vendiam até mesmo remédios. Muitas outras pessoas, que fizeram e ficaram na história da cidade, foram Antônio Paixão, João Pedro fernandes, Manelão, Osvaldo Pimpim, Alberto R. Machado, Valdivino Macedo, João Santana da Silva, Domiciano Ferreira e outros relacionados no texto. A parte religiosa não ficou esquecida. Os padres de Rio Verde, a cavalo, visitavam mensalmente as fazendas, fazendo celebrações e ministrando sacramentos. Em 1950, na parte mais alta do povoado, afastada da área do garimpo, foi construída uma capela, que serviu para as celebrações até que fosse construída uma igreja mais espaçosa e confortável. A primeira hospedaria foi a pensão de Dona Elvira; a primeira farmácia pertencia ao senhor Toinho; o primeiro cinema, de Jamil Abdão Amuí; a primeira panificadora, de João Tomaz da Silva, o popular Zi padeio e a primeira serraria, de Genésio Adad; a primeira escola foi o grupo Escolar Bartolomeu Bueno da Silva. O desenvolvimento acelerado do vilarejo e o interesse dos fazendeiros em abrir mais lavouras e ampliar seus rebanhos despertaram as atenções das autoridades municipais e estaduais. Aquela gente trabalhadora não poderia ficar à mercê das circunstâncias e ao sopro dos ventos. Mateira foi elevada a distrito de Quirinópolis pela lei municipal nº 11 de 21-01-1950 com o nome de presidente Dutra, mas na boca do povo continuou sendo Mateira. A respeito dos prefeitos nomeados pouco se sabe, quase que exclusivamente seus nomes, até mesmo sobre a sequência e número, pairam dúvidas. Para alguns, Joaquim Paula foi o primeiro, para outros Andyara Bittencourt. Os demais foram José Porfírio Barreto, Samuel Paranaíba Bernardes e Odilon Severino. Benefícios trazem progresso, progresso gera benefícios. Assim, com esse jogo de alternativas, Presidente Dutra, três anos depois, tornou-se município pela Lei nº 743 de 23-06-1953, com a área de 1.500 km ,voltando ao topônimo inicial, Mateira. Como era de se esperar, na primeira eleição para prefeito, foi eleito Oscar José Bernardes. Sua escolha não foi por acaso, mas uma recompensa por sua atitude para com aqueles humildes e corajosos garimpeiros, procedentes de vários Estados brasileiros.
A Primeira Eleição
Em 03-10-1954 foram eleitos Oscar José Bernardes como prefeito e, Andyara Bittencourt, Jair Soriano de Sousa, Osvaldo de Araújo Pimpim, Joaquim Paula de Oliveira, João Pádua Diniz, Maria Domiciano Ferreira e Ranulfo Rodrigues Maia como Vereadores, tomando-os posse em 31-01-1955. Naquele tempo até vários anos depois, os vereadores não tinham salário, trabalhavam por gostar e para servir a comunidade ou apenas por hobby. Nas duas primeiras sessões não deu quórum. Na terceira, o vereador Andyara Bittencourt comunicou seu afastamento por ser genro do prefeito, sendo substituído por Aniceto Ferreira de Castro, autor do projeto para criar o Distrito de São Simão, aprovados por unanimidade. Seu desejo foi realizado em 24-06-57 com as seguintes divisas: começa na barra do Ribeirão Mateira, segue pela cerca de arame, dividindo terras de Oscar José Bernardes e Gilberto Marques, até a estrada Canal Mateira, chegando a cabeceira do Córrego Campanha, daí, Campanha abaixo até o Rio Claro. Em 1956 havia uma linha de ônibus de propriedade de Flávio Lima, a empresa Expresso Sudoeste de Transporte Coletivo, com rota de Uberlândia - MG a Rio Verde - GO, passando por Mateira, apesar da precariedade das estradas. O vereador Ranulfo Rodrigues Maia, no primeiro mês de seu mandato, apresentou três projetos de grande importância: Criar três Escolas Rurais, construir uma rua boiadeira e a instalação de uma pequena usina hidrelétrica, aproveitando o rego de água, que passava dentro da cidade para a lavagem do cascalho. Posteriormente esses projetos foram aprovados por unanimidade. A construção da usina foi um presente muito valioso para todos as pessoas, pois além da iluminação pública e residências, facilitou muito das donas de casas com a instalação de bombas nas cisternas, aposentando os baldes amarrados às cordas e sarilhos. Não havia rede hidráulica e nem sanitária. Nos quintais construíram pequenos cômodos, denominados casinhas, sobre fossas, onde depositavam os detritos orgânicos. Os banhos à base de bacias e canecas ou chuveiros manuais. A usina pôs fim a esses sacrifícios. Os recursos para a construção dessa obra, a princípio foram angariados através de doações e depois para concluí-la, um empréstimo no valor de quinhentos mil réis. Em 1958, pela Lei nº 2.108, de 14 de Novembro de 1958, São Simão tornou-se município com as mesmas divisas.
A Mudança de Nome
No início do mês de janeiro de 1967, consultamos os presidentes dos dois únicos partidos políticos da cidade. Elias Miguel Salomão e Ricardo Ferrado, ambos de saudosa memória, sobre a possibilidade de se escolher um outro nome para a cidade de Mateira, ao que concordaram plenamente, perguntando apenas, quais seriam os procedimentos. Explicamos que organizaríamos um abaixo-assinado, onde cada pessoa interessada indicaria o nome de sua preferência ou apoiaria um dos nomes já relacionados. No final, uma comissão composta por vereadores, professores e demais autoridades, escolheria o nome mais adequado, mesmo que não fosse o mais votado. A população também achou muito interessante a ideia. Após alguns dias de pesquisas, o nome que liderava a preferência estava sendo "SAVANAS", vegetação característica do Brasil Central e consequentemente do estado de Goiás. Nessa época, um ex-secretário da prefeitura de Mateira, José Avelino, que era deputado estadual, interessou-se pelo assunto, organizando uma outra lista, apenas com o nome das pessoas, que aprovassem o nome por ele indicado: Paranaiguara. Não tendo conhecimento do significado da palavra, teve a humildade de nos consultar. Folhando um dicionário da língua tupi-guarani, constatamos que constituída por três termos indígenas: Paraná - Grande; I - Rio; Guara - Margem do vale. Que belo nome significado: VALE DO GRANDE RIO. Esse nome é uma referência ao Rio Paranaíba, divisor dos Estados de Goiás e Minas Gerais. Não sabemos, se por coincidência ou providência, algumas semanas depois, foi publicada no Diário Oficial do Estado de Goiás uma lei com os seguintes termos: "Para mudar o nome da cidade basta que um deputado faça o projeto e o encaminhe à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, indicando o nome escolhido". Passados mais alguns dias, outro número do citado Diário encerrava o assunto com Lei nº 1.651 de 17-05-1967.
A Mudança de Sede
O tempo Corria e os trabalhos na Construção da represa estavam acelerados. Enquanto isso, pessoas e mais pessoas apareciam à procura de emprego na empresa, que tinha muita oferta de mão-de-obras, por isso, entendermos melhor o provérbio: Uma mão lava a outra. Para acolher tanta gente, a Cemig construiu um conjunto de casas populares em Paranaiguara e dois em São Simão, sendo um popular e outro sofisticado para os funcionários graduados. O trabalho complicado da transferência da cidade estava nas mãos do Prefeito Ênio. Seriam necessários acordos, entendimentos e perspicácia. Nesse ínterim, apareceu uma sugestão de unificar Paranaiguara e São Simão, a mãe e a filha. Se necessário seria escolhido um terceiro nome. As opiniões se dividiram em prós e contra. Para tratar do assunto, foi marcada uma reunião a ser realizada no prédio do Cinema em Paranaiguara. O salão ficou repleto de pessoas de todas as classes sociais. Autoridades dos dois municípios no palco, populares na plateia. Discursos, pareceres e propostas. No final, aperto de mãos, aplausos, fotografias e decisão prorrogada. Outra assembleia foi programada para acontecer numa residência em São Simão, desta vez mais simples, com número de pessoas reduzido. Conclusão aparentemente positiva, sem estipular detalhes. Segundo comentários, um famoso fazendeiro convenceu vereadores de São Simão a não aceitarem a unificação, praticamente decidida, que poderia ser vantajosa para ambos os lados. Dissolvidos os sonhos, o prefeito de Paranaiguara formou uma comissão encarreagada de escolher o local para sediar a cidade nova. Os dois primeiros locais, apontados pelos representates do Poder Executivo, encontraram reistência dos fazendeiros. Não se sabe a razão, que levou o prefeito a requerer licença de seu cargo por um mês. O vice-prefeito, Arlindo Soares, desfez a primeira comissão e organizaou outra, que em poucos dias entrou em entendimento com quatro fazendeiros, Adoniro Alves Capanema, Aquino barcelos, Anésio Laureano e João Apolinário Guimarães. Cada um cedeu uma pequena área de suas terrras, que hoje compõem o perímetro urbano, onde esta implanta a Princesa do Planalto. Liberado o local de excelente topografia, constituído por um solo arenoso de plano inclinado, a empresa da futura hidrelétrica providenciou a limpeza e uma moderna planta da cidade, com avenidas e ruas largas, tendo, além do centro, os seguintes setores: Industrial 01 e 02, Vila Cristina, homenagem a uma freira e Vila Maria, homenagem a uma vereadora do primeiro mandato, que ficou na história do município, não somente como legisladora, porém como salvadora de tantos recém-nascidos, pois sem visar lucros, deixava seus afazeres domésticos, para socorrer as parturientes e consequentemente os nenês. Pela companhia foram construídas as redes sanitárias e hidráulicas, uma caixa de água com capacidade para duzentos mil litros, poço semi-artesiano, devidamente equipado com bombas e asfaltou a área central colocando os meio-fios. Foram construídas também os prédios públicos correspondentes aos da cidade velha, tais como: prefeitura, fórum, cadeia, delegacia, posto de saúde, hospital, todos os colégios e campo de futebol, que recebeu o nome do prefeito Ênio Tibúrcio, porém, posteriormente substituído por O Nicolau, nome de um ex-incentivador do futebol local. Dos lados leste e norte, foram reservados terrenos para serem transformados em chácaras vicinais com a finalidade de produzirem hortaliças e frutas para o comércio local. A princípio não eram para serem vendidas, mas foram! Todos os proprietários de imóveis localizados na área de inundação foram indenizados. As pessoas que não concordaram com os preços oferecidos pela Cemig entraram na justiça. Com o dinheiro em mãos muitas famílias transferiram-se para outras cidades. As que optaram em construir na nova sede receberam gratuitamente os lotes, com direito de escolha. O primeiro estabelecimento comercial foi o do Sr. Fayez Zebiam eo primeiro hotel, o savanas.
A instalação da nova sede aconteceu no dia 30 de outubro de 1976. O adjetivo pátrio dos nascidos em Paranaiguara, oficialmente é Paranaiguaro, mas há quem conteste.